Em 1789 teve início, na França, uma revolução
política, símbolo da destruição do absolutismo e da consolidação
da hegemonia da burguesia no mundo ocidental.
A Revolução Francesa tornou-se
tão significativa, que os historiadores a colocam como marco divisor
da história, na passagem da Idade Moderna para a Idade
Comtemporânea.
Antes da Revolução, a situação econômica
francesa não era boa. A França havia perdido colônias e mercados
devido às derrotas nas guerras contra a Inglaterra. A participação
na Guerra da Independência dos EUA onerou os cofres franceses. A
agricultura, maior fonte de renda do Estado, estava em crise devido
ao atraso técnico e às más colheitas. Para completar, a indústria
francesa era pouco lucrativa.
A sociedade estava dividida em três
estados: o primeiro e segundo estados (clero e nobreza)
monopolizavam os privilégios e estavam isentos de impostos. O
terceiro estado (burguesia, sans cullottes e camponeses), 98% da
população, ficava responsável pelas despesas do Estado, mas não
tinha direitos políticos.
A divulgação das idéias iluministas e a
participação na Guerra da Independência dos EUA contribuíam para
a reação contra o absolutismo.
Luís XVI convocou os Estados Gerais para decidir
sobre a reorganização das finanças.
O impasse surgiu quando da discussão
sobre o critério da votacão: por estado (como queriam o
primeiro e segundo estados),ou por deputado (como queria o terceiro
estado). ao houve acordo e o terceiro estado se retirou,
proclamando-se a Assembléia Nacional para elaborar uma constituição.
O rei foi obrigado a ceder e ordenou ao clero e à nobreza que se
juntassem ao terceiro estado.
A Tomada da Bastilha, por Jean-Pierre Louis Laurent Houel
FASES DA REVOLUÇÃO FRANCESA
PRIMEIRA FASE (1789-1792)
Houve a recusa do rei em jurar a Constituição e
diante da intransigência do monarca, a população toma a Bastilha
em 14 de julho de 1789, transformando o ato num movimento popular
nunca antes visto. A Bastilha era símbolo do absolutismo real, e sua
invasão pelo povo deixou clara a impotência do rei.
Estava na Constituição de 1791:
abolição dos privilégios feudais, elaboração da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, votação da Constituição civil do
clero, estabelecimento da monarquia limitada (Jornadas de Agosto).
O rei é obrigado a se instalar em Paris (Jornadas
de Outubro) e, é declarada guerra à Áustria e à Prússia, onde a
França sofre derrotas e o rei é acusado de traição.
SEGUNDA FASE (1792-1795)
Esta foi a fase da ascensão dos jacobinos. A
França vence o exército austro-prussiano. Eleição da Convenção
(girondinos, grupo da planície, jacobinos, raivosos).
Execução de Luís XVI. Convenção
jacobina: vitória sobre a coligação de países europeus,
reformas internas, estabelecimento do Regime do Terror (Marat,
Danton, Robespierre).
TERCEIRA FASE (1795-1799)
Em 1795, a Convenção Nacional adotou uma nova
constituição que restabeleceu o voto censitário para as eleições
do Legislativo. O Poder Executivo foi entregue a uma junto de cinco
membros, denominada Diretório.
O novo governo perseguiu todos os movimentos
revolucionários radicais. O mais famoso deles foi a Conspiração
dos Iguais, de 1796, liderada pelo Graco Babeuf. O movimento
pretendia a abolição de toda propriedade privada e a fundação de
um governo popular de tendência socialista. Seus seguidores foram
presos, executados ou deportados.
Em 1797, a França enfrentou também a reação
monárquica. Os membros do Diretório recorreram a um jovem general,
Napoleão Bonaparte, que esmagou o movimento. Dois anos depois, após
uma série de outros levantes, e com a crise econômica ainda
debilitando o país, Napoleão assumiu o poder.
Para alguns historiadores, este fato representou o
fim da Revolução Francesa. Para outros, a Era Napoleônica marcou o
início da expansão dos movimentos revolucionários para o resto da
Europa.
Fonte: geocities.yahoo.com.br
Revolução Francesa
A queda da Bastilha, no dia 14 de julho de 1789,
marca o início do movimento revolucionário pelo qual a burguesia
francesa, consciente de seu papel preponderante na vida econômica,
tirou do poder a aristocracia e a monarquia absolutista. O novo
modelo de sociedade e de estado criado pelos revolucionários
franceses influenciou grande parte do mundo e, por isso, a revolução
francesa constitui um importante marco histórico da transição do
mundo para a idade contemporânea e para a sociedade capitalista
baseada na economia de mercado.
Sublevação política que teve início em 1789 e
se prolongou até 1815, à revolução francesa, baseada em
princípios liberais, democráticos e nacionalistas, foi à primeira
das revoluções modernas. Por suas conseqüências e pela influência
que exerceu na evolução dos países mais adiantados da Europa, é
considerada a mais importante do ciclo de revoluções burguesas da
história. A independência dos Estados Unidos e a revolução
industrial iniciada na Grã-Bretanha são outras duas grandes
transformações que marcaram a transição da idade moderna para a
idade contemporânea.
ANTECEDENTES
Historiadores divergem quanto às causas da
revolução francesa, mas as mais comumente citadas incluem o
descontentamento do povo francês, farto de tolerar um regime em que
eram inúmeros os privilégios e os abusos. A monarquia absolutista
representava um obstáculo à ascensão da burguesia, classe mais
rica e instruída da nação. Os camponeses ainda viviam esmagados
pelo sistema feudal imperante no campo. A nobreza e o alto clero
possuíam as melhores e mais extensas propriedades, enquanto o
campesinato vergava sob o peso dos impostos reais, do dízimo
eclesiástico e dos direitos senhoriais.
O poder absoluto do rei não podia, pelo menos
teoricamente, sofrer limitações. Desde 1614 não eram convocados os
Estados Gerais, a assembléia que representava a nação e que se
compunha da nobreza, do clero e do chamado terceiro estado, ou seja,
todos aqueles que não pertenciam às duas primeiras classes. Não
havia liberdade religiosa nem de imprensa. Com uma simples ordem -- a
lettre de cachet -- o rei podia mandar efetuar prisões
arbitrariamente. A justiça ainda adotava a tortura. O poder real
apoiava-se na nobreza e no clero. O Parlamento, principal corte de
justiça, freqüentemente entrava em conflito com o soberano e, como
tinha o direito de criticar os editos reais podia mesmo recusar-se a
reconhecê-los. Nessas disputas, o povo punha-se ao lado do
Parlamento.
Uma das instituições do regime monárquico que,
por sua impopularidade, muito contribuiu para a queda do regime foi à
corte. De seus numerosos membros, cerca de 16.000 estavam a serviço
do rei, enquanto os demais eram cortesãos sem função definida.
Outra grave falha do regime era a falta de unidade administrativa. Os
impostos variavam de província para província e cada uma delas
mantinha suas próprias instituições e leis.
Existiam várias organizações judiciais:
além dos tribunais reais, havia aqueles que pertenciam aos senhores
de terra, às municipalidades e à igreja.
A desorganização fiscal e os gastos supérfluos
tinham desastrosas conseqüências para as finanças. O orçamento
era constantemente deficitário e o imposto se cobravam de maneira
arbitrária.
O princípio da desigualdade imperava
também nos meios eclesiásticos: o alto clero, constituído
exclusivamente de nobres, possuía cerca de seis por cento das terras
do país e reservava para si a maior parte da receita da igreja.
A nobreza gozava de numerosos privilégios
Somente seus membros tinham acesso aos cargos da
corte, aos comandos militares e às dignidades eclesiásticas.
Em suas propriedades prevaleciam os
direitos feudais: contribuições em gênero ou em trabalho,
pagamento pelo uso dos moinhos, fornos etc. Entregue, porém, a uma
vida de dissipação e impedida de exercer atividades consideradas
menos dignas, a nobreza entrou em decadência. Sentindo-se ameaçada
pela burguesia, suscitou um movimento de reação, a fim de conservar
seus privilégios. Conseguiram excluir do alto clero, do Parlamento e
dos postos mais expressivos da carreira militar aqueles cuja nobreza
não fosse superior a quatro gerações.
Ascensão da burguesia
Com o desenvolvimento do comércio, da indústria
e das finanças, a burguesia prosperou. Tornou-se considerável o
movimento dos principais portos franceses, enriquecidos com o
comércio das Antilhas e o tráfico de escravos. A indústria também
se desenvolveu. Os produtos franceses tinham fama em toda a Europa.
Era igualmente notável o progresso das indústrias
têxtil, metalúrgica e de mineração. Embora a maior parte da
produção industrial ainda dependesse do artesanato, já começavam
a surgir às primeiras grandes fábricas capitalistas, que empregavam
maquinaria moderna. Era natural, portanto, que a burguesia não se
conformasse em permanecer relegada a uma posição secundária na
vida política do país. Ademais, a má administração das finanças
públicas afetava diretamente seus interesses.
Ela ansiava por uma mudança de regime que lhe
permitisse participar da administração e era, assim, a principal
interessada na revolução.
Com o progresso industrial, a classe operária
cresceu e passou a reivindicar maiores salários e melhores condições
de trabalho. Mas ainda não era suficientemente numerosa, nem
dispunha de organização para aspirar à direção do movimento
revolucionário. Mais grave, porém, era o problema agrário.
O campesinato representava nove décimos da
população total. Embora a maioria dos camponeses fosse livre,
somente uma pequena parcela podia manter-se com a produção da terra
e desfrutava de um padrão de vida relativamente elevado. Os pequenos
proprietários viviam esmagados pelos impostos e eram obrigados a
dedicar-se à produção artesanal para subsistir. Os camponeses
sem-terra viam-se forçados a trabalhar nas propriedades dos grandes
senhores.
Fermentação revolucionária
A estrutura agrária obsoleta não atendia às
novas exigências de uma população que se expandia com o progresso
industrial e mercantil. Reclamavam-se medidas capazes de aumentar a
produção agrícola, que mal chegava para alimentar a população.
Assim, as condições eram propícias à fermentação de idéias
revolucionárias.
Era muito grande a influência de Voltaire e,
principalmente, de Jean-Jacques Rousseau, autor do livro Du contrat
social (1762; Contrato social), lido e aplaudido em praça pública.
Inspirados nas idéias de Rousseau, os revolucionários defendiam o
princípio da soberania popular e da igualdade de direitos. O exemplo
da revolução americana (1776) também muito contribuiu para exaltar
a opinião pública francesa.
Dentre os intelectuais avançados da época, além
de Jean Le Rond d'Alembert, Anne-Robert-Jacques Turgot e Denis
Diderot, sobressaiu-se o abade Mably, considerado o "profeta e
conselheiro da revolução", que chegou a preconizar a
propriedade coletiva da terra. Foi, entretanto, o marquês de
Condorcet quem conseguiu exprimir com fidelidade as aspirações
revolucionárias da época.
Defendia a liberdade econômica e chegou a
elaborar o princípio dos direitos do homem. Contudo, a elite
intelectual revolucionária não pretendia aplicar o princípio
igualitário até as últimas conseqüências. Os mais radicais
defendiam a "monarquia republicana". Segundo pensavam a
massa ignorante não estava preparada para participar do poder.
Diante das promessas de igualdade e fraternidade, porém, o povo foi
atraído para a causa revolucionária.
Às vésperas da revolução, agravou-se a crise
econômica. O único meio de estabelecer o equilíbrio seria suprimir
os privilégios e decretar a igualdade de todos diante do fisco, mas
para isso era necessário opor-se aos nobres, e o governo não tinha
forças para tanto.
Crise econômica
Nomeado ministro das Finanças em 1783,
Charles-Alexandre de Calonne tentou solucionar a crise por meio de
empréstimos sucessivos.
Quando já não pôde conseguir novos empréstimos,
pensou em realizar reformas, a fim de obrigar os privilegiados a
pagar impostos. Sabendo que seus projetos seriam rejeitados pelo
Parlamento, apelou para a convocação de uma assemblée des
notables, composta de grandes senhores, príncipes, magistrados e
conselheiros de estado. A assembléia reuniu-se em 1787, mas rejeitou
as idéias de Callone, logo destituído por Luís XVI.
O novo ministro das Finanças, Loménie de
Brienne, sugeriu aos notáveis as mesmas medidas propostas pelo
antecessor e foi igualmente derrotado. Brienne, então, submeteu seus
planos ao Parlamento de Paris, que aprovou algumas reformas, mas
derrubou as mais importantes, como a que instituía o imposto
territorial.
Luís XVI entrou em choque com o Parlamento e este
fez publicar, em maio de 1788, uma decisão que valeu como verdadeira
declaração de direitos da nação. O povo tomou o partido dos
parlamentares e o soberano acabou por decretar o recesso compulsório
do Parlamento.
A crise se aprofundou e, premido pela gravidade da
situação, Luís XVI cedeu e substituiu Brienne por Jacques Necker,
homem muito popular, que já fora ministro das Finanças e que passou
a exercer funções de primeiro-ministro. Foram convocados os Estados
Gerais.
Depois de acesos debates sobre a proporcionalidade
dos representantes das três classes nos Estados Gerais, o rei
decidiu atender ao clamor público e concedeu que o terceiro estado
contasse com tantos representantes quantos tinham as outras duas
classes reunidas e que fossem periodicamente convocados para
deliberar sobre despesas e impostos.
No entanto, a crise econômica continuou a
agravar-se. A indústria têxtil foi duramente atingida pela
concorrência inglesa e o número de desempregados elevou-se a cerca
de 200.000. Os camponeses famintos assaltavam os celeiros e se
recusavam a pagar os direitos feudais. Em Paris, cuja população era
de cerca de 650.000 habitantes, mais de 120.000 indigentes
perambulavam pelas ruas.
Queda da Bastilha
Logo na primeira sessão dos Estados Gerais, os
representantes do terceiro estado desentenderam-se com os
aristocratas.
Depois de negociações infrutíferas, os
primeiros resolveram deliberar sozinhos, na qualidade de
representantes de 96% da nação, e declararam-se Assembléia
Nacional, soberana em matéria de impostos. Essa medida praticamente
subtraiu ao rei o poder sobre as finanças e se constituiu no
primeiro ato revolucionário.
Luís XVI hostilizou o terceiro estado e tentou
anular suas deliberações, mas ante sua resistência foi obrigado a
ceder. A partir de então, a Assembléia declarou-se Assembléia
Constituinte, destruindo com isso o poder absoluto da monarquia.
Instigado pela rainha e pelos que o cercavam, o soberano preparou-se para agir e reuniu as tropas em torno de Paris e Versalhes.
Instigado pela rainha e pelos que o cercavam, o soberano preparou-se para agir e reuniu as tropas em torno de Paris e Versalhes.
Circulavam boatos sobre a dissolução da
Assembléia
O rei recusou-se a dispersar as tropas a pedido
dos constituintes e demitiu Necker. Paris levantou-se em defesa da
Assembléia. Camille Desmoulins incitou o povo a reagir e encabeçou
uma passeata de protesto. O grupo invadiu o Hôtel de Ville
(prefeitura), onde capturou algumas armas. Organizou-se, no dia 13 de
julho, um comitê permanente que reuniu 12.000 homens e constituiu
uma milícia para a defesa de Paris. Foi o primeiro núcleo da Guarda
Nacional.
No dia seguinte, 14 de julho, a agitação
cresceu
O povo sublevado saqueou o Hôtel des Invalides
(sede do governo militar parisiense), onde recolheu canhões e
milhares de fuzis. Em seguida, dirigiu-se à Bastilha, à procura de
mais armas e munição. Depois de algumas horas de luta, a massa
invadiu a fortaleza e massacrou seus defensores. A queda da Bastilha
teve importância decisiva para a revolução, porque era o símbolo
das injustiças do antigo regime. O rei capitulou. Em 15 de julho,
anunciou aos deputados à dispersão das tropas e, no dia seguinte,
chamou Necker para reassumir o Ministério das Finanças. Luís XVI e
Maria Antonieta se dirigiram a Paris, numa tentativa de pacificar a
cidade. O rei sancionou todas as medidas adotadas pelos
revolucionários.
Esses acontecimentos repercutiram por toda
a França
Nos departamentos, constituíram-se novas
municipalidades e organizaram-se milícias populares.
Marcha contra Versalhes
Após a queda da Bastilha, espalharam-se pelo país
boatos alarmantes. Falava-se numa conspiração dos aristocratas para
retomar o poder. Os camponeses começaram, então, a rebelar-se.
Atacaram os castelos e recusaram-se a pagar os direitos feudais. A
insurreição no campo chamou a atenção da Assembléia Constituinte
para o problema agrário. Reunida em 4 de agosto, decidiu,
finalmente, suprimir os direitos feudais, os privilégios fiscais e a
venalidade dos cargos.
Em 26 de agosto, a Assembléia votou a Declaração
Universal dos Direitos do Homem -- que proclamava a liberdade, a
igualdade, a inviolabilidade da propriedade e o direito de resistir à
opressão -- e começou a discutir a constituição. A situação
agravou-se, porém, quando Luís XVI recusou-se a sancionar os
decretos de 4 de agosto e chamou as tropas de volta a Versalhes.
A fome contribuía para aumentar o desespero das
massas. Em 5 de outubro, uma multidão dirigiu-se a Versalhes,
clamando por pão e exigindo do rei a aprovação dos decretos de 4
de agosto. Luís XVI prometeu providenciar alimento e sancionar os
decretos. No dia seguinte, porém, as massas invadiram o palácio e
pressionaram diretamente o soberano, que prometeu, para acalmá-las,
instalar-se em Paris.
A constituição
No início da revolução, distinguiam-se,
na Assembléia, duas facções antagônicas: os aristocratas
e os patriotas. Com o desenrolar dos acontecimentos, os dois grupos
cindiram-se. Os patriotas dividiram-se em monarquistas, que, temendo
a ascensão do movimento popular, desejavam fortalecer o poder real;
constitucionais, que pretendiam limitar o poder do rei sem aboli-lo;
e um pequeno grupo extremado que, desconfiado de Luís XVI, procurava
restringir ao máximo suas atribuições.
A luta política não se travava somente na
assembléia. Havia também os clubes, em que os diversos grupos se
reuniam para discutir. O principal deles era o Clube dos Jacobinos,
onde se encontravam os deputados patriotas e a elite da burguesia
revolucionária.
Os debates se travavam também pelos
jornais: enquanto a aristocracia se manifestava no Petit
Gauthier, na extrema esquerda Jean-Paul Marat agitava a opinião
pública com o L'Ami du Peuple.
Restava à Assembléia tomar medidas que
remediassem a crise financeira e reorganizassem a vida constitucional
do país. Como medida extrema, decidiu lançar mão dos bens do
clero. Emitiu assinats, reembolsáveis em bens eclesiásticos, e
determinou que essas espécies de apólices circulassem como moeda
corrente.
Com isso, o custo de vida subiu. O estado foi
forçado a emitir cada vez mais.
A constituição foi concluída em 1791 e,
seguindo o exemplo dos americanos, os constituintes encabeçaram-na
com uma declaração de direitos que valia como uma exposição dos
princípios filosóficos da revolução. Os mais importantes eram o
princípio da soberania do povo e o da separação dos poderes.
Sendo maioria na Assembléia, a burguesia ditou os
princípios que nortearam a constituição, de acordo com seus
interesses de classe, e preocupou-se, ao mesmo tempo, em restringir o
poder real e conter as reivindicações das massas populares.
Escolheu o regime representativo, no qual o povo não poderia influir
diretamente no governo e nem todos podiam votar. Os cidadãos foram
divididos em duas categorias -- ativos e passivos -- e a constituição
outorgou o direito de voto somente aos primeiros. A base para a
distinção entre as duas categorias era a propriedade.
Os deputados deviam ser escolhidos entre os
proprietários que pagassem contribuição equivalente a cinqüenta
dias de salário. Desse modo, os plenos direitos políticos ficavam
reservados aos ricos. O poder judiciário foi confiado a juízes
eleitos, e o poder executivo a um monarca hereditário.
A Assembléia Legislativa, eleita por dois anos,
era indissolúvel e constituía o poder preponderante no novo regime.
Ao soberano cabia sancionar as leis, dirigir a política externa e
usar o "veto suspensivo" para recusar-se a sancionar uma
lei durante duas legislaturas sucessivas.
A constituição estabeleceu a igualdade de
impostos, secularizou o matrimônio, o registro civil e a instrução
pública. Para conter a agitação operária, decorrente da crise
econômica e do desemprego, a Assembléia votou uma lei que proibia
as associações profissionais. Na verdade, a queda do antigo regime
trouxe pouca vantagem para o operariado. Nem mesmo os camponeses
pobres foram beneficiados como esperavam.
Contra-revolução
O novo regime teve de enfrentar grandes
dificuldades, como greves operárias, descontentamento de camponeses
e desentendimentos entre oficiais nobres e soldados patriotas. Os
choques das diversas tendências lançaram os moderados para o lado
da aristocracia, contra aqueles que exigiam medidas mais
democráticas. Surgiram, então, sociedades que defendiam idéias
mais avançadas que as dos jacobinos, como a que ficou conhecida por
Clube dos Cordeliers, de que faziam parte George-Jacques Danton,
Jean-Baptiste Santerre, Marat, Desmoulins e Jacques-René Hébert. As
sociedades populares de Paris agruparam-se em 1791 numa federação e
apresentaram à Assembléia a reivindicação do sufrágio universal.
Nessas sociedades propagavam-se os ideais republicanos e discutia-se
a questão agrária. À medida que as massas se radicalizavam, a
grande burguesia, temendo as idéias avançadas, agrupava-se num
"partido de conservação social". O governo revolucionário
teve de enfrentar também a animosidade dos demais soberanos da
Europa.
Estes, a princípio, permaneceram neutros por
verem na revolução apenas o enfraquecimento da França, mas, tão
logo sentiram a ameaça de propagação dos ideais revolucionários
em seus próprios domínios, passaram a auxiliar abertamente as
tentativas de contra-revolução.
Enquanto os exilados preparavam a guerra
contra-revolucionária, Luís XVI e Maria Antonieta tentavam obter
auxílio nas outras cortes da Europa. Entraram em contato com o
marquês de Boillé, que concentrara tropas em Metz. Na noite de 20
de junho de 1791, o rei fugiu com sua família das Tulherias em
direção à fronteira, mas, durante a viagem, foram descobertos e
presos em Varennes.
A Assembléia suspendeu provisoriamente os
poderes do soberano
Esse incidente foi de grande importância, pois
serviu para estimular as idéias republicanas. O Clube dos Cordeliers
solicitou à Assembléia que proclamasse a república, mas ela não
acedeu. Também se recusou a levar Luís XVI a julgamento e tentou
até inocentá-lo. Os partidários da república promoveram uma
manifestação no Campo de Marte e foram dispersados a tiros pela
guarda nacional do marquês de Lafayette, que, de volta dos Estados
Unidos, havia se incorporado à corrente dos moderados, que dominaram
a situação. Submeteram a constituição ao soberano, reforçaram
seus poderes e concederam, a seu próprio pedido, a anistia geral.
Fonte: www.conhecimentosgerais.com.br
Revolução Francesa
A Revolução Inglesa do século XVII marca o
início da Era das Revoluções Burguesas, na medida em que cria
condições para o desenvolvimento acelerado do capitalismo.
A Revolução Francesa, cabe
definir o perfil ideológico desses movimentos, por seu caráter
liberal e democrático.
Para muitos historiadores, a Revolução Francesa
faz parte de um movimento revolucionário global, atlântico ou
ocidental, que começa nos Estados Unidos em 1776, atinge Inglaterra,
Irlanda, Holanda, Bélgica, Itália, Alemanha, Suíça e, em 1789,
culmina na França com violência maior. O movimento passa a
repercutir em outros países europeus e volta à França em 1830 e
1848. Há traços comuns em todos esses movimentos, mas a Revolução
Francesa tem identidade própria, manifestada na tomada do poder pela
burguesia, na participação de camponeses e artesãos, na superação
das instituições feudais do Antigo Regime e na preparação da
França para caminhar rumo ao capitalismo industrial.
Antecedentes
A França era ainda um país agrário em fins do
século XVIII. Novas técnicas de cultivo e novos produtos melhoraram
a alimentação, e a população aumentou. O início de
industrialização j á permitia a redução de preços de alguns
produtos, estimulando o consumo.
A burguesia se fortaleceu e passou a pretender o
poder político e a discutir os privilégios da nobreza. Os
camponeses possuidores de terras queriam libertar-se das obrigações
feudais devidas aos senhores. Dos 25 milhões de franceses, 20
milhões viviam no campo. A população formava uma sociedade de
estamentos (formas de estar), resquício da Idade Média. Mas j á se
percebia uma divisão de classes. O clero, com 120 000 religiosos,
dividia-se em alto clero (bispos e abades com nível de nobreza) e
baixo clero (padres e vigários de baixa condição); era o primeiro
estado. A nobreza constituía o segundo estado, com 350 000 membros;
os palacianos viviam de pensões reais e usufruíam de cargos
públicos; os provinciais viviam no campo, na penúria. A
nobreza de toga, constituída de gente oriunda da burguesia, comprava
seus cargos.
O terceiro estado compreendia 98% da
população: alta burguesia, composta por banqueiros,
financistas e grandes empresários; média burguesia, formada pelos
profissionais liberais, os médicos, dentistas, professores,
advogados e outros; pequena burguesia, os artesãos, lojistas; e o
povo, camada social heterogênea de artesãos, aprendizes e
proletários. As classes populares rurais completavam o terceiro
estado; destacavam-se os servos ainda em condição feudal (uns 4
milhões); mas havia camponeses livres e semilivres.
O terceiro estado arcava com o peso de impostos e
contribuições para o rei, o clero e a nobreza. Os privilegiados
tinham isenção tributária. A principal reivindicação do terceiro
estado era a abolição dos privilégios e a instauração da
igualdade civil.
No plano político, a revolução resultou do
absolutismo monárquico e suas injustiças. O rei monopolizava a
administração; concedia privilégios; esbanjava luxo; controlava
tribunais; e condenava à prisão na odiada fortaleza da Bastilha,
sem julgamento. Incapaz de bem dirigir a economia, era um entrave ao
desenvolvimento do capitalismo.
O Estado não tinha uma máquina capaz dê captar
os impostos, cobrados por arrecadadores particulares, quê espoliavam
o terceiro estado. O déficit do orçamento sê avolumava. Na época
da revolução, a dívida externa chegava a 5 bilhões de libras,
enquanto o meio circulante não passava da metade. Os filósofos
iluministas denunciaram a situação. Formavam-se clubes para ler
seus livros. A burguesia tomava pé dos problemas ê buscava
conscientizar a massa, para obter-lhe o apoio.
As condições estavam postas; faltava uma
conjuntura favorável para precipitar a revolução.
A revolta aristocrática
A indústria sofreu séria crise a partir dê
1786. Um tratado permitiu quê produtos agrícolas franceses tivessem
plena liberdade na Inglaterra em troca da penetração dê produtos
ingleses na França. A principiante indústria francesa não agüentou
a concorrência.
A seca de 1788 diminuiu a produção dê
alimentos. Os preços subiram ê os camponeses passavam fome.
Havia miséria nas cidades. A situação do tesouro piorou depois quê
a França apoiou a Independência dos Estados Unidos, aventura quê
lhe custou 2 bilhões dê libras. O descontentamento era geral.
Urgiam medidas para sanear o caos. Luís XVI encarregou o ministro
Turgot dê realizar reformas tributárias, mas os nobres reagiram ê
ele sê demitiu. O rei então indicou Calonne, quê convocou a
Assembléia dos Notáveis, dê nobres ê clérigos (1787). O ministro
propôs quê esses dois estados abdicassem dos privilégios
tributários ê pagassem impostos, para tirar o Estado da falência.
Os nobres não só recusaram como provocaram revoltas nas províncias
onde eram mais fortes.
O novo ministro, Necker, convenceu o rei a
convocar a Assembléia dos Estados Gerais, quê não sê reunia desde
1614. As eleições dos candidatos para a Assembléia realizaram-se
em abril dê 1789 ê coincidiram com revoltas geradas pela péssima
colheita desse ano. Em Paris, os panfletos dos candidatos atacavam os
erros do Antigo Regime ê agitavam os sans-culottes, isto é, os
sem-calções, em alusão à peça de roupa dos nobres, que os homens
do povo não usavam. Os nobres eram cerca de 200 000 numa Paris com
600 000 habitantes.
Em maio de 1789, os Estados Gerais se reuniram
no Palácio de Versalhes pela primeira vez. O terceiro estado foi
informado de que os projetos seriam votados em separado, por estado.
Isto daria vitória à nobreza e ao clero, sempre por 2 a 1. O
terceiro estado rejeitou a condição. Queria votação individual,
pois contava com 578 deputados, contra 270 da nobreza e 291 do clero,
ou seja a, tinha maioria absoluta. E ainda contava com os votos de 90
deputados da nobreza esclarecida e 200 do baixo clero.
Revolução Burguesa
Reunindo-se em separado em 17 de junho de 1789, o
terceiro estado se considerou Assembléia Nacional. Luís XVI,
pretextando uma reforma na sala, dissolveu a reunião. Os deputados
do terceiro estado foram então para a sala de Jogo da Péla, onde
receberam adesão de parte do clero e de nobres influenciados pelo
Iluminismo. O rei não teve alternativa senão aceitar a Assembléia
Nacional.
Os fatos se desenrolaram com rapidez, como se
algumas décadas fossem comprimidas em algumas semanas.
9 de julho - Proclamou-se a
Assembléia Nacional Constituinte. Os deputados juraram só se
dispersar depois de dar uma Constituição à França. Luís XVI
procurava ganhar tempo, enquanto reunia tropas.
12 de julho - Necker se demite.
Aumenta a tensão.
13 de julho - Forma-se a milícia
de Paris, organização militar-popular. O povo armazena armas e
prepara barricadas.
14 de julho - O povo toma a
Bastilha. A explosão revolucionária alastra-se por todo 0 país. No
campo, a violência é maior. Procurando destruir o jugo feudal,
camponeses saqueiam as posses da nobreza, invadem cartórios e
queimam títulos de propriedade.
Correm boatos de que bandidos aliciados pelos
senhores vão atacar os camponeses, gerando o grande medo.
4 de agosto - A
Assembléia Constituinte inicia reunião em que, para conter o
movimento, os deputados aprovam a abolição dos direitos feudais:
as obrigações devidas pelos camponeses ao rei e à Igreja a são
suprimidas; as obrigações devidas aos nobres devem ser pagas em
dinheiro.
26 de agosto - E aprovada a
Declaração dos Diretos do Homem e do Cidadão. De inspiração
iluminista, o documento defende o direito à liberdade, à igualdade
perante a lei, à inviolabilidade da propriedade e o direito de
resistir à opressão. Na sessão que votou o direito de veto (poder
concedido ao rei de vetar decisões da Assembléia), os aristocratas
sentam-se à direita do presidente; os democratas, à esquerda. Tal
fato deu origem à separação que chega aos dias de hoje, entre
direita e esquerda na política.
O rei se recusou a aprovar a Declaração e a
massa parisiense revoltou-se novamente.
Foram as jornadas de outubro: o
Palácio de Versalhes foi invadido e o rei obrigado a morar no
Palácio das Tulherias, em Paris.
Em 1790, foi aprovada a Constituição Civil do
Clero. Estabelecia que os bens eclesiásticos seriam confiscados para
servir de lastro à emissão dos assignats (bônus do Estado) e os
padres passariam a ser funcionários do Estado. Muitos aceitaram e
juraram fidelidade à Revolução, desobedecendo ao papa, que já se
manifestara contra. Outros, os refratários, emigraram e deram
início às agitações contra-revolucionárias nas províncias.
A Constituição ficou pronta em 1791. O poder
executivo caberia ao rei, e o legislativo, à Assembléia. O trono
continuava hereditário e os deputados teriam mandato de dois anos.
Só seria eleitor quem tivesse um mínimo de riqueza. Foi abolido o
feudalismo. Foram suprimidos os privilégios e as antigas ordens
sociais, com a proclamação da igualdade civil. Reorganizou-se e
descentralizou-se a administração. Foram confirmadas a
nacionalização dos bens eclesiásticos e a Constituição Civil do
Clero. Foi mantida a escravidão nas colônias.
Luís XVI, em contato com outros soberanos
absolutos, julgou o momento oportuno para escapar e, com apoio
estrangeiro e dos emigrados, iniciar a contra-revolução. Fugiu em
julho de 1791, mas foi preso em Varennes, recambiado ao Palácio e
mantido sob vigilância.
O êxito da Revolução estimulou movimentos na
Holanda, Bélgica e Suíça. Na Itália, Inglaterra, Irlanda,
Alemanha e Áustria, simpatizantes organizaram demonstrações de
apoio. Os déspotas esclarecidos sustaram as reformas e se
reaproximaram da aristocracia. Escritores reacionários defendiam a
idéia de uma contra-revolução. As potências européias, de início
indiferentes, uniram-se. A ameaça de invasão da França
aumentou, o que tornou inevitável a radicalização interna da
Revolução.
A unidade inicial entre patriotas contra os
aristocratas desapareceu, dando origem a complexa composição
político-partidária. Os girondinos, representantes da alta
burguesia, defendiam as posições conquistadas e evitavam a ascensão
da massa de sans-culottes; os jacobinos, representando a pequena e
média burguesia, constituíam o partido mais radical, ainda mais sob
a liderança de Robespierre, que buscava o apoio dos sans-culottes;
os cordeliers, independentes liderados por La Fayette, procuravam
ficar no centro e oscilavam entre os feuillants, à direita, e os
jacobinos, à esquerda.
Os girondinos tinham a maioria e o apoio do rei,
que neles confiava para conter o avanço revolucionário. Graças a
isto, o rei conseguiu vetar o projeto que deportava os refratários e
convocava o exército para enfrentar os inimigos da Revolução, cada
vez mais ativos fora da França.
Os inimigos, representados pelo exército
austro-prussiano e pelo exército de emigrados, comandados pelo duque
prussiano Brunswick e apoiados secretamente por Luís XVI, invadiram
a França. Radicalizou-se a posição contra os nobres, considerados
traidores.
A massa parisiense, mais forte
politicamente, apoiando os jacobinos e liderada por Danton e Marat,
atacou os aristocratas nas prisões: foi o massacre de
setembro.
O exército nacional foi convocado, com
apresentação obrigatória de todos os homens válidos. Em 20 de
setembro de 1792, os austro-prussianos foram batidos em Valmy. À
noite, em Paris, foi proclamada a República. O rei, suspeito de
traição, aguardaria julgamento.
Revolução Popular
Uma nova assembléia foi formada, a Convenção,
que deveria preparar nova Constituição. Os girondinos perderam a
maioria para os jacobinos, reforçados pelos montanheses, grupo mais
radical. Robespierre e Saint-Just lideravam os jacobinos. O
julgamento de Luís XVI abalou a opinião pública européia. Os
girondinos trataram de defendê-lo. Saint-Just e Robespierre pediam a
condenação. O rei acabou guilhotinado em 21 de janeiro de 1793.
O primeiro ano da República, 1793, foi chamado
Ano I, no novo calendário. Uma nova representação tomou posse,
eleita por sufrágio universal masculino, o que acentuou seu caráter
popular; saíram vitoriosos os jacobinos e a Montanha. Pela nova
Constituição, os 750 deputados eleitos escolheriam a mesa
dirigente, com funções executivas.
Europa afora, coligavam-se forças
absolutistas: Inglaterra, Holanda e Santo Império.
A Convenção se defendeu, organizando uma
série de instituições: Comitê de Salvação .Pública,
encarregado de controlar o exército; Comitê de Segurança Nacional,
para garantir a segurança interna; Tribunal Revolucionário,
encarregado de julgar os contra-revolucionários. Os jacobinos
controlavam a Convenção e os principais Comitês.
Começa então o expurgo de adversários. Os
girondinos são acusados de partidários do rei e vários vão para a
guilhotina. A jovem Charlotte Corday se vinga assassinando o jacobino
Marat. Também é guilhotinada. Entramos no período do Terror, que
se estenderia de junho de 1793 a julho de 1794.
A Montanha de Robespierre dirigia essa política.
As perseguições se espalharam. Os indulgentes de Danton temiam que
a onda os envolvesse. Protestavam e pediam o fim das
perseguições. No extremo oposto, os hebertistas, seguidores de
Hébert, pregavam mais violência.
Robespierre tentava manter-se entre os extremistas
da esquerda.
Como a pressão popular era grande, fazia
concessões: os preços foram tabelados; os
exploradores, perseguidos; os impostos sobre os ricos, aumentados;
pobres, velhos e desamparados, protegidos por leis especiais; a
instrução tornou-se obrigatória; bens de nobres e emigrados foram
vendidos para cobrir as despesas do Estado.
As leis sociais provocaram ondas
contra-revolucionárias. Sobrevieram medidas drásticas. O Tribunal
Revolucionário prendeu mais de 300 000 pessoas e condenou à morte
17 000. Muitos morreram nas prisões esperando julgamento.
O Terror chegou ao auge e atingiu a própria
Convenção. Para se manter no poder, Robespierre precisava eliminar
toda oposição. Condenou Danton à morte. O radicalismo dos
hebertistas igualmente criava problemas, levando-os também à
guilhotina.
O sucesso militar diminuiu a tensão interna, e a
população passou a desejar o afrouxamento da repressão. Os
girondinos, que tinham se isolado durante o Terror para salvar suas
cabeças, voltaram à carga. Robespierre não tinha mais a massa
parisiense para apoiá-lo, pois havia liquidado seus líderes. Em
julho de 1794, ou 9 Termidor pelo novo calendário, Robespierre e
Saint-Just foram presos e guilhotinados em seguida. A alta burguesia
voltava ao poder através dos girondinos.
Contra - Revolução Burguesa
O poder da Convenção caiu nas mãos do Pântano,
movimento formado por elementos da alta burguesia, de duvidosa
moralidade pública e grande oportunismo político. Ligados aos
girondinos, instalaram a Reação Termidoriana. Os clubes jacobinos
foram fechados. Preparou-se nova Constituição, a do ano III (1795),
que estabelecia um executivo com cinco diretores eleitos pelo
legislativo, o Diretório.
Os deputados comporiam duas câmaras:
o Conselho dos S00 e o Conselho dos Anciãos.
A configuração política da Assembléia
mudou: no centro, os girondinos, que tinham deposto
Robespierre; à direita, os realistas, que pregavam a volta dos
Bourbon ao poder; à esquerda, jacobinos e socialistas utópicos, que
reclamavam medidas de caráter social.
Os diretores equilibravam-se em meio a golpes, da
esquerda e da direita. Em 1795, os realistas tentaram dar um golpe,
abafado por um jovem oficial, Napoleão Bonaparte, presente em Paris
por acaso. Como recompensa, ele recebeu dos diretores o comando do
exército na Itália.
Em 1796, estourou a conspiração jacobina do
Clube de Atenas. No ano seguinte, foi a vez dos realistas, derrotados
novamente, pelo general Augereau, enviado por Napoleão, que acabava
de assinar uma paz vantajosa com a Áustria. Em 1798, os jacobinos
venceram as eleições. A burguesia queria paz. Queria um governo
forte que conduzisse a França à normalidade. Alguns diretores, como
Sieyès e Ducos, prepararam o golpe que levaria Napoleão ao poder,
em 9 de novembro de 1799 ou 8 Brumário. Napoleão evitaria as
tentativas jacobinas de tomar o poder, consolidando o poder da
burguesia no contexto da Revolução.
Uma revolução cujos ideais não tardariam a
repercutir em longínquas terras, inclusive no Brasil.
Fonte: www.culturabrasil.pro.br
Revolução Francesa
1 – Introdução
Decorridos mais de dois séculos do estopim da
Revolução Francesa, suas heranças permanecem vivas na estrutura da
sociedade hodierna. Podem não se apresentar de imediato aos nossos
sentidos, mas ao perscrutar as mais variadas esferas de atividade
humana, nossa condição de legatários diretos ou indiretos é
evidente.
O estudo desenvolvido a seguir surge com o fito de
fundamentar essa assertiva. A análise da Revolução Francesa
permite transcender as implicações territoriais do conflito, visto
que foi o epicentro de algo muito maior; foi a manifestação
incontível de um longo processo de condensação de conjunturas
sociais críticas. Na França, contudo, essa convergência de fatores
foi potencializada e precipitada por um complexo conjunto de
situações que culminaram na eclosão de um esquisito movimento
revolucionário.
Além dessa reflexão de ordem casuística do
pioneirismo francês na concretização revolucionária,
procurar-se-á explorar as questões motivacionais e que instilaram
essa transformação política e social. Nesse sentido, o estudo
naturalmente expandir-se-á para além das peculiaridades francesas,
situando a motricidade dos ideais da Revolução como imanentes ao
corpo intelectual da época.
Complementando esse raciocínio, uma breve
explanação sobre conceitos como liberdade e democracia sob a
perspectiva da Revolução será pertinente para mais abrangente
assimilação do contexto.
2 – Razões locais
A análise endógena da sede principal da
Revolução (França) servirá como ponto de partida para posterior
compreensão do que realmente se exprimiu com a efetivação do
movimento.
“O conflito entre a estrutura oficial e os
interesses estabelecidos do velho regime e as novas forças sociais
ascendentes era mais agudo na França do que em outras partes”
(HOBSBAWM, 2008, p. 86).
Essa passagem resume a condição francesa à
época pré-revolucionária. A tensão social que ali se estabelecia
estava próxima de seu limiar, equilibrada tão-somente pela tênue
incerteza do que se veria a seguir.
Esse estado de conflito potencial se
transformaria, segundo Hobsbawm, em conflito efetivo após o que
chamou de “reação feudal”. Este haveria consistido na tentativa
da nobreza em reaver sua condição privilegiada como classe
dominante. Desde o declínio do sistema feudal, a burguesia havia
conquistado diversos nichos na direção e administração dos
assuntos estatais, já que adquirira crescente importância com o
desenvolvimento das relações comerciais.
Os nobres, portanto, pareciam não
pertencer à nova sociedade que se vislumbrava, e nesse período de
desesperada transição lançaram mão do único artifício de que
dispunham: “Era portanto natural que os nobres usassem seu
bem principal, os privilégios reconhecidos” (HOBSBAWM, 2008, p.
88).
A invasão dos setores administrativos foi
realizada com sucesso, o que promoveu a exaltação dos atritos com a
classe média.
Mas a polarização ainda não estava completa. A
década que antecedeu a Revolução foi também de profunda crise
econômica. Dessa forma, o ônus recaía sobre a parcela mais pobre
da população; e o contraste exacerbado entre a extremada penúria
de um lado, e a crescente ostentação de outro foi apenas um dos
motivos que exasperaram os ânimos do Terceiro Estado (do
campesinato, particularmente) contra esse feudalismo fora de época.
O golpe final, entretanto, que conduziu a
esse estado de coisas, foi o envolvimento da França na guerra de
independência estadunidense: “A vitória contra a
Inglaterra foi obtida ao custo da bancarrota final, e assim a
revolução americana pôde proclamar-se a causa direta da Revolução
Francesa” (HOBSBAWM, 2008, p. 89).
Hobsbawm, então, expõe sucintamente que:
“a Revolução começou como uma tentativa
aristocrática de recapturar o Estado. Esta tentativa foi mal
calculada por duas razões: ela subestimou as intenções
independentes do Terceiro Estado – a entidade fictícia destinada a
representar todos os que não eram nobres nem membros do clero, mas
de fato dominada pela classe média – e desprezou a profunda crise
socioeconômica no meio da qual lançava suas exigências políticas.”
(HOBSBAWM, 2008, p. 90).
3 – Internacionalismo consensual
Contextualizada a situação específica da
França, a apreensão das motivações filosóficas, dos instrumentos
intelectuais e do cosmopolitismo de seus ideais será facilitada. A
concreção deste movimento e sua repercussão internacional é
inclusive alvo de reflexão para Hobsbawm, o qual afirma que “a
política européia (ou mesmo mundial) entre 1789 e 1917 foi em
grande parte a luta a favor e contra os princípios de 1789, ou os
ainda mais incendiários de 1793” (HOBSBAWM, 2008, p. 83). Alude,
também, ao fato de a Revolução ter representado a mais contundente
“revolução democrática” entre as demais de sua época.
Nota-se, assim, que a Revolução Francesa, embora tenha sido o maior
expoente desse momento histórico, não consistiu em seu único
exemplo. É-se pertinente, portanto, ponderar acerca dessa
onipresença ideológica em uma época tão restrita em termos de
relações interestatais.
Para Tocqueville, o grande ineditismo da Revolução
Francesa foi justamente sua não limitação a um território
específico, à maneira de todas as outras revoluções civis e
políticas até então. Dessa forma, compara-a às revoluções
religiosas, ou seja, na França o movimento foi capaz de
desvincular-se dos particularismos, promovendo uma ubiqüidade
ideológica semelhante àquela só encontrada em religiões.
“A Revolução Francesa agiu em relação
a este mundo exatamente como as revoluções religiosas operam em
relação ao outro. Tem considerado o cidadão de uma maneira
abstrata, fora de qualquer sociedade particular, da mesma maneira
como as religiosas consideram o homem em geral, independentemente do
país e da época. Não pesquisou tão-somente qual era o direito
particular do cidadão francês mas também quais os deveres e
direitos e direitos gerais do homem em matéria pública (...) Como
parecia aspirar mais ainda à regeneração do gênero humano que à
reforma da França, acendeu uma paixão que as revoluções políticas
as mais violentas jamais conseguiram produzir até então”.
(TOCQUEVILLE, 1989, p. 60)
Ou como coloca Hobsbawm:
“Para os franceses, bem como para seus numerosos
simpatizantes no exterior, a libertação da França era simplesmente
o primeiro passo para o triunfo universal da liberdade. (...) uma
inabilidade genuína para separar a causa da nação francesa daquela
de toda a humanidade escravizada.” (HOBSBAWM, 2008, p. 99)
Aqui se faz uma ressalva a respeito do âmbito
propício à absorção destes conceitos, que permitiu torná-los
exeqüíveis.
Em meio a este cenário claramente
universalizante, distinguem-se algumas características próprias do
movimento francês. Tocqueville aponta o esmero dispensado ao ataque
à Igreja, apesar de não ser este o objetivo fundamental da
Revolução.
Conforme esse autor, a essência
revolucionária consiste na inauguração de princípios sociais, e a
aversão religiosa seria apenas mais uma de suas faces:
“foi muito menos como doutrina religiosa que
como instituição política que o cristianismo acendeu estes ódios
furiosos; não porque os padres pretendiam fixar as coisas do outro
mundo, mas porque eram proprietários, senhores, dizimadores,
administradores neste mundo; não porque a Igreja não podia tomar um
lugar na nova sociedade que se ia fundar, mas porque ocupava então o
lugar mais privilegiado e mais forte nesta velha sociedade que era
preciso reduzir às cinzas”. (TOCQUEVILLE, 1989, p. 55/56)
4 – Liberdade e igualdade
Algumas considerações atinentes aos conceitos
revolucionários de liberdade devem ser feitos. Apesar de esta ser
uma temática largamente abordada desde os filósofos gregos (na
constituição inclusive daquilo que conhecemos por política), a
Revolução legou alguns preceitos nos quais a sociedade atual está
profundamente arraigada.
A começar pela conotação fundamentalmente
burguesa da Revolução. Alicerçados sobre a filosofia liberal
clássica, seus interesses foram expressos na Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão.
Conforme elucida Hobsbawm:
“Este documento é um manifesto contra a
sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto
a favor de uma sociedade democrática e igualitária. (...) no geral,
o burguês liberal clássico de 1789 (e o liberal de 1789-1848) não
era um democrata mas sim um devoto do constitucionalismo.”
(HOBSBAWM, 2008, p. 91).
Essas garantias são típicas dos ideais
individualistas da época que, segundo Tocqueville, foram
convenientemente apropriados pela esfera política com o intuito de
estabelecer uma fachada superficialmente igualitária para facilitar
o exercício do poder. Não à toa, o radicalismo e a democracia
foram contidos na fase da Assembléia Constituinte, sucedidos pela
extrema vertente revolucionária jacobina – “Foi a primeira
Constituição genuinamente democrática proclamada por um Estado
moderno” (HOBSBAWM, 2008, p. 104) –, e novamente reprimidos
em menor e maior grau.
É válido atentar para o fato de que a Revolução
Francesa foi um verdadeiro palco experimental para as diversas formas
de governo, corroborando com os desdobramentos apontados pelo pensado
romano Cícero, em Da República.
5 – Conclusão
A partir dessas ponderações, é difícil
caracterizar a Revolução Francesa como um movimento necessariamente
extemporâneo. Seu desenrolar foi profundamente marcado e alimentado
por ideais cosmopolitas, com poucas limitações de cunho territorial
(excetuando-se as causas diretas que instigaram o conflito naquele
país).
Destarte, suas conseqüências reverberaram
indubitavelmente no tempo e no espaço. Noções como as de
nacionalismo e patriotismo; experiência de comunhão maciça na luta
por objetivos comuns; princípios sobre os quais todo um modelo
social foi erigido; até mesmo a constituição de um novo formato de
disputas são exemplos de alguns de seus legados.
Foi um momento da história que se estabeleceu
como um verdadeiro axioma. Não se restringiu a esferas específicas
da interferência humana e serviu de base e referência para muitas
outras agitações civis e políticas. Inclusive no Brasil.
oi
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